O público estimado pelo ministério é de 79,7 milhões. Os grupos prioritários serão organizados para vacinação em três etapas e incluem gestantes, idosos acima de 60 anos, professores, entre outros. Os dias de mobilização, chamados de dias D, serão definidos em cada município pela Secretaria de Saúde local.
Em relação à vacinação contra o coronavírus, a recomendação é que ela não seja feita junto à da gripe. O Ministério da Saúde orienta que os grupos prioritários procurem se vacinar primeiro contra a Covid-19. Especialistas recomendam uma diferença de pelo menos 14 dias entre as duas doses.
- O maior risco não é apenas para o próprio indivíduo, mas para os que estão em volta e para a sociedade como um todo. "Ele se torna perigoso porque tende a reunir grupos, considerando que precisa combater o outro lado, ou seja, que tem o direito de exterminar quem pensa diferente dele", alerta o psicólogo Fabricio Guimarães, doutor e mestre em psicologia clínica pela UnB e membro do Núcleo de Gênero e Psicologia Clínica e Cultura da mesma instituição.
O fanatismo político e religioso, por exemplo, na tentativa de produzir uma sociedade monolítica, coloca em risco a existência de populações inteiras, como genocídios. "Existem estudos envolvendo filhos e netos de sobreviventes do holocausto que mostra que esse tipo de experiência modifica o processamento do DNA dos neurônios, numa tentativa de adaptar o cérebro ao estresse, mas que acaba por predispor a diferentes transtornos mentais, especialmente depressão", informa Brietzke.
Além disso, comportamentos fanáticos podem deixar a pessoa mais suscetível a alguns fatores de risco para saúde mental. Por exemplo, quem se juntou a um culto e acredita firmemente na superioridade de um líder pode ficar mais exposto ao abuso físico, moral, financeiro ou sexual, o que sabidamente é uma causa de transtornos mentais. "Há ainda um prejuízo para o funcionamento interpessoal, afinal quem entra em um fanatismo (delirante) tende a não escutar a família ou pessoas próximas que queiram ajudar, devido a uma inflexibilidade e intransigência que vai afastando as pessoas", diz Marques.
Comemorar um gol de maneira mais acalorada ou participar de uma discussão política de forma mais efusiva são situações cotidianas e que permeiam o universo social. Portanto, não são essas situações atípicas que apontam para o fanatismo. O limite é respeitar o limite do outro, ou seja, sua opinião ou preferência não pode agredir, diminuir ou ofender o outro. "O fanatismo provoca um enrijecimento de ideias e descarta a flexibilidade", aponta Guimarães.
Existem três traços que, combinados, definem a anormalidade do comportamento: intensidade, intolerância e incoerência. Quando o pensamento ou reação é muito discrepante das normas culturais do entorno e há acentuada intolerância aos pensamentos contrários, pode se dizer que se trata de um indivíduo fanático. O risco é que a radicalização está por trás de crimes de ódio e ataques terroristas, mas também de intervenções agressivas organizadas na internet e nas redes sociais.
Abandonar comportamentos fanáticos pode ser estressante, principalmente quando isso acontece no contexto de grupos fortemente coesos, como fundamentalistas religiosos ou políticos. Muitas vezes, é preciso suporte externo durante esse processo. O grande desafio é fazer a pessoa compreender a importância de buscar apoio, pois, em geral, o fanático não enxerga seus excessos como um problema.
Alguns perfis fanáticos podem se apresentar como pessoas muita ansiosas e, em alguns casos, com dificuldades de controlar seus impulsos, portanto, o tratamento com psicoterapia e até medicação pode ser necessário. "O não tratamento pode fazer com que essa pessoa se isole e tenha outros transtornos como piora da ansiedade ou desenvolva depressão, além do risco de uso de substâncias", enfatiza Marques.
É importante destacar que o fanatismo pode se acentuar ou não com o tempo. Brietzke explica que o fanatismo não acontece na infância, pois nessa fase os cuidadores conduzem a criança. Porém, alguns autores sugerem que a exposição a situações estressoras, especialmente maus tratos, pode predispor o indivíduo ao fanatismo na vida adulta. Já a adolescência é um período vulnerável para o problema, pois o questionamento dos valores dos pais e a busca por novos referenciais identitários é parte desse período. Para se ter ideia, diferentes grupos no mundo já estudam como prevenir o extremismo e a radicalização, com o objetivo de reduzir o risco de evolução do fanatismo para comportamentos violentos.
A polarização observada em várias partes do mundo trouxe à tona um assunto muito complexo: o fanatismo. Intolerância, inflexibilidade e até atos mais violentos mostram que muita gente "passa do ponto" e não consegue conter seus excessos. O velho ditado de que futebol, política e religião não se discute talvez indique os três quesitos que mais atraem indivíduos exacerbados, podendo colocar o convívio social em risco.
Ainda assim, é importante considerar que o fanatismo não é classificado como uma doença. "Ele é um comportamento disfuncional, mas não é considerado um transtorno mental, e se caracteriza por uma crença ou comportamento que não admite refutação, que é defendida de forma obsessiva e apaixonada e que deixa muito pouco espaço para a tolerância às ideias contrárias", explica a médica psiquiatra Elisa Brietzke, orientadora do programa de pós-graduação em psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Apesar disso, o fanatismo pode sim se tornar um distúrbio psiquiátrico, dependendo do prejuízo que a pessoa tem em sua vida ou do impacto na vida de outras pessoas. Existem inclusive estudos que já o associam a questões psicopatológicas (esquizofrenia/psicose), podendo fazer parte do quadro clínico, de acordo com o psiquiatra Luan Diego Marques, especialista em terapia interpessoal pelo Prove (Serviço de Assistência e Pesquisa em Violência e Estresse Pós-Traumático), ligado à Unifesp, e professor colaborador da Faculdade de Medicina da UnB (Universidade de Brasília).
No entanto, fanatismo e problemas de saúde mental podem coexistir no mesmo indivíduo, sem serem necessariamente relacionados. "Existe uma crença errônea de que transtornos mentais predispõem ao fanatismo ou atos extremistas e violentos, mas isso não procede", confirma Brietzke.
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