Após a morte do jornalista e apresentador de TV Marcelo Rezende, de 65 anos, após abandonar a quimioterapia após a primeira sessão do tratamento contra o câncer, contrariando seus médicos, para tentar um tratamento alternativo com base em uma dieta.
O caso ganhou repercussão nacional e levantou o debate sobre os riscos
de trocar a quimioterapia por tratamentos sem base em evidências
científicas, como dietas, exercícios, suplementos, vitaminas, massagens,
ervas, acupuntura e meditação.
Embora afirmem que as terapias alternativas possam mesmo ajudar o
paciente a enfrentar os severos efeitos colaterais da quimioterapia, os
estudos e os especialistas consultados pelo Estado são unânimes: esses
métodos podem ser usados de modo complementar, mas não têm eficácia
comprovada contra o câncer e são incapazes de substituir o tratamento
convencional.
No caso de Rezende, a terapia alternativa escolhida foi a chamada dieta
cetogênica, que se baseia em evitar açúcar e carboidratos. Desde que
deixara a quimioterapia, o apresentador passou a realizar viagens para
receber o tratamento alternativo em Juiz de Fora (MG), onde atua o
cardiologista, nutrólogo e autor de livros de autoajuda Lair Ribeiro, um
dos principais defensores da dieta cetogênica.
O conceito por trás da dieta cetogênica é bastante simples: as células
cancerosas precisam de glicose para crescer e, ao evitar o consumo de
carboidratos e açúcares, o paciente cortaria a alimentação do tumor,
fazendo-o regredir por inanição.
O oncologista clínico André Sasse, coordenador do Centro de Evidências
em Oncologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é taxativo:
esse tratamento simplesmente não funciona. “A dieta cetogência é
totalmente anticientífica, assim como as dietas para ‘alcalinizar’ o
organismo. Não faz sentido do ponto de vista biológico. O tumor vai
continuar crescendo”, disse Sasse.
A opinião é compartilhada pelo também oncologista clínico Felipe Ades,
do Hospital Israelita Albert Einstein. Ele lembra que a ideia da dieta
cetogênica foi proposta pela primeira vez pelo americano Raymond Rife,
em 1931. “Ele foi genial ao seu tempo, mas lhe faltava conhecimento,
como da estrutura do DNA, só descoberta em 1953. Mais tarde foi provado
que alterações celulares e não a glicose, causam o câncer. Se o
paciente para de comer açúcares, o corpo vai produzir glicose do mesmo
jeito”, explica.
“O câncer, na maior parte das vezes, é consequência do que respiramos,
do que comemos e do que sofremos. Em determinado momento, as células
doentes acumulam mutações e se tornam tumores. Mas esse é um processo
que leva anos. Portanto, é fantasioso imaginar que, depois de se expor a
um ou mais fatores de risco ao longo de décadas, o paciente consiga
reverter isso mudando seus hábitos e seguindo uma dieta cetogênica, por
exemplo”, explica o oncologista Helano Freitas, coordenador de Pesquisa
Clínica do A. C. Camargo Cancer Center.
O corpo do jornalista Marcelo Rezende foi velado neste domingo na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo por amigos e fãs e enterrado no Cemitério Congonhas© Rafael Arbex/Estadão O corpo do jornalista Marcelo Rezende foi velado neste domingo na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo por amigos e fãs e enterrado no Cemitério Congonhas.
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