Menos
debatida pela população do que a reforma da Previdência, a Reforma Trabalhista aparvada na Câmara e agora no Senado pode excluir do
contrato o pagamento pelas horas que se gasta para chegar ao trabalho quando é
de difícil acesso, reduzir os valores de indenização por danos morais, fazer
prevalecer os acordos entre patrões e empregados sobre a lei, possibilitar a
redução de salário e o aumento da jornada de trabalho, além de uma série de
outras alterações estruturais.
Maria
Aparecida da Cruz Bridi, professora de Sociologia da Universidade Federal do
Paraná e membro da Associação Brasileira de Estudos do Trabalho, afirma que o
argumento do governo de que a reforma serve para gerar empregos é uma falácia,
e que essas transformações servem ao empresariado.
Para a especialista, “pode-se constatar empiricamente que o governo de Lula e Dilma criou muitos empregos sem alterar a CLT, como na construção civil, que foi um dos setores que mais empregou naquele período em função de toda a política de fomento da economia sem necessidade de alterar a lei. O que cria emprego efetivamente é o aquecimento da economia, são as políticas públicas.”
"Que
nação vamos construir ao abrir mão da possibilidade de reduzir a desigualdade?
O que é uma sociedade que não visa garantir empregos? Quando todo um país
deixar de acreditar nas instituições, como ocorreu no Espírito Santo, o que vai
acontecer?", questiona a pesquisadora.
“Essas
reformas estão muito ligadas ao empresariado, embora eles não assumam. Querem o
desmonte de uma estrutura organizada desde 1943, e que nunca chegou a alcançar
a maioria dos trabalhadores. O resultado disso só pode ser a
institucionalização da precariedade do mercado de trabalho.”
O mais
grave é que não foi discutido com a população. Se essa reforma passar, o
negociado se coloca acima do legislado, e em uma situação de desemprego vai
ficar mais difícil para o trabalhador em condições precárias fazer exigências.
Essas
reformas todas são um ataque do capital, e das forças ligadas a esse capital,
ao trabalho, que é uma das alas mais vulneráveis da sociedade.
Quanto
mais flexível o salário, a jornada, e quanto maior a reserva de mercado, mais
favorável é para o empresário, porque ele pode baratear o salário.
O
trabalhador é aquele que está na condição de dependência e é mais vulnerável
porque se ele precisa de emprego vai aceitar qualquer possibilidade por um
pedaço de pão. Por isso, quando o mercado de trabalho está aquecido, o poder de
barganha dos trabalhadores aumenta.
Com
essa reforma, o poder do trabalhador fica reduzido a pó, por exemplo, com essa
história do negociado prevalecer sobre o legislado, isto é, o que estiver
acordado entre o patrão e o empregado terá força de lei. Esse discurso, os
cidadãos podem comprar por acreditar que a relação entre patrões e empregados
vai ser igualitária.
Consequências:
No momento
em que o trabalhador sai da empresa, por exemplo, ele vai ter que dar quitação
total, sem poder acionar a Justiça do Trabalho posteriormente. E as empresas
vão poder demitir e recontratar na forma de terceirizado ou apenas por jornada.
Esse vai passar a ser o padrão.
Outra
grande consequência é a ampliação da desigualdade social. Se o Brasil já era um
país que tinha uma grande tarefa de reduzir os patamares de desigualdade, por
exemplo, por meio da distribuição de ganho salarial, quando isso se fragiliza,
se tem um aprofundamento da desigualdade.
A
classe trabalhadora inteira vai perder, mas os que devem ser mais impactados
são as mulheres, os jovens, os pobres e os negros, é o que se observa em outros
países.
O neoliberalismo não trouxe resultados positivos
em nenhuma parte do mundo, e o horizonte sempre foi a concentração da riqueza.
Desde o momento em que o neoliberalismo começou a avançar, os ricos ficaram
mais ricos e os pobres mais pobres. Parece um chavão, mas é o que as
estatísticas mostram.
Nenhum comentário: